Em Minsk, cidade
onde vive, Svetlana Alexievich,
Prémio Nobel da Literatura 2015, foi entrevistada pelo jornal português EXPRESSO.
O resultado é esta belíssima entrevista que se lê com profundo prazer. Com sofreguidão
mesmo. Diz-nos ela: “Eu não sou historiadora. Tento escrever a história da alma
humana”.
Amanhã, 14 de
Março, a Autora de “Vozes da Utopia” fará a intervenção de abertura do Festival Literário da Madeira. O título dessa sua intervenção é, no mínimo, provocador: “Haverá
algo mais assustador do que o homem?”
Mas, neste Março
das Mulheres, este breve respingo da entrevista: “Durante 40 anos, tudo isto
ficou na sombra. Depois da guerra, os homens assumiram os louros da vitória. Ou
seja, roubaram-na às mulheres, que sofreram tanto ou mais do que eles. Ao
regressar à vida civil, elas encontraram uma sociedade onde havia poucos
homens. Os ex-soldados eram vistos como heróis; mas as mulheres que combateram,
não. Olhavam-nas com desconfiança. Chamavam-lhes coisas feias. Por isso, muitas
delas ocultavam o facto de terem participado na guerra e até escondiam as
medalhas, para poderem ter hipóteses de casar. Muitas fizeram-no por uma
questão de sobrevivência. A sua historia ficou por contar durante décadas. E elas
queriam contá-la, mas não havia ninguém para ouvir. Quando por fim me lancei à
tarefa, nos anos 80, muitas delas disseram-me: “Por que demoraste tanto a vir
ter comigo?”
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