segunda-feira, março 09, 2009

Blog Joint: auto-censura? Não, obrigado!

Dos tempos de estudante, ficou-me nos ouvidos estas palavras de um saudoso Lente lá de Coimbra: dizer o desgravo no momento certo ou então enterrá-lo para sempre.
Entre nós, a moda tem sido uma muito outra: nos momentos e nos locais apropriados calamo-nos (ou, pior ainda, dizemos apenas o que pensamos ser conveniente ou “correcto”, conforme os interlocutores) e vamos, tal como numa bravata adolescente, dar tarefa à língua nas esquinas e nos botecos. Ou então guardamos a ronha e ficamos à espera do propício lusco-fusco para desferir uma patada traiçoeira. Anónima, q.b.
Ainda nos anos noventa escrevi sobre esta nossa marca, esta nossa forma de (ser e) estar.
Somos uma sociedade muito propensa a covardias, grandes e pequenas.
A chamada auto-censura é uma delas. Objectivamente.
Ou seja, podemos até ouvir/ ponderar as razões que uns e outros terão, ou crêem que têm, para estar nas águas da auto-censura, mas o certo é que esta é o que é.
Após tantos anos de Indepêndencia e outros, já não poucos, de Liderdade e Democracia, o facto de tal prática existir no nosso seio constitui, inegavelmente, uma nódoa.
E urge que ela seja, digamos, lavada.
Se o lápis azul é terrível, muito mais ainda o é o exercício da censura sobre a própria pessoa, sobre si mesmo.
Dito de outro, não seremos uma sociedade plenamente democrática enquanto for possível registar (registo que é por nós feito, mas também o é por instituições internacionais que nos observam e “avaliam”) que há cidadãos que não dizem ou não escrevem o que pensam, por medo de represálias ou por outra razão menos nobre. O facto, por si só, é grave.

É fundamental que, a cada amanhecer, o direito à palavra desponte e se afirme, pleno e pujante, para todos e cada um.
E, se isto é assim para todos os cidadãos, nestes vão naturalmente incluídos aqueles que têm na palavra o seu instrumento de trabalho.
Ainda recentemente, ao intervir na cerimónia de inauguração da Casa da Imprensa, o Senhor Primeiro Ministro fez questão de recordar o quanto esta problemática apoquentou o Executivo logo em 2001. Lembro-me de como ele próprio, enquanto Chefe do Governo, ia dizendo e repetindo: preferimos os eventuais excessos da Liberdade na Comunicação Social a um clima de mordaças e de medo de dizer (neste momento, não tenho presente as palavras exactas, mas a ideia é mais ou menos esta, creio).
Naturalmente que muita coisa mudou, neste intervalo. Mas não cabe aqui fazer balanço, neste momento.
O que me interessa, no enfoque do tema de hoje, é isto: o que é que falta fazer para que a auto-censura deixe de existir, de vez?
Quanto a esse tanto que falta fazer, será ele tarefa do Governo? Será terefa exclusiva do Governo? Não terá o Governo já feito a sua parte? Qual a responsabilidade que cabe a cada um, individualmente, no sentido de se colocar, a tempo inteiro, no tabuleiro quotidiano da Liberdade (da palavra)?
Porventura seria útil olhar para o Cabo Verde que fomos tendo em diferentes momentos da nossa história e ver que, se foram vencidas as tormentas do passado (que a liberdade de dizer nem sempre existiu!), também não há razão para não enfrentar e vencer eventuais gongons que existam por aí. Ou seja, a haver gongons, que sejam... verdadeiros. Disparate meu: ia dizer de carne e osso... Mas nunca meras criações para servir de escudo a esta ou aquela insuficiência ou fraqueza nas canelas.
Enfim... Tópicos apenas para algum, breve que seja, matutar.
Julgo que seria bom prestar atenção à experiência da Blogosfera Crioula. No contributo que tem vindo a dar para ajudar a empurrar a causa da Liberdade e da Cidadania.
Com um que outro entorse ou exagero, mas empurrando sempre. Que tem de ser assim.
Por mim, sempre vou perguntando aos meus botões: acaso a auto-censura não estará a paredes-meias com uma como que (não)cultura do medo? Se sim, temos algum interesse nisso? Não creio. Ou melhor: se há algum medo, urge espantá-lo.
Nos tempos da meninice ouvíamos dizer que medo é barriga fórte. Ora pois! Em matéria de Liberdade (da palavra), a fome tem ser insaciável. A barriguinha colada às costas, com um permanente ronco de dublidade.

2 comentários:

menelik disse...

komu funsionariu di sidadi di Oakland, onti n stivi num treinu di etika. dos pontu fika salienti y parsen jermanu(n sta inventa otu bes?) a bu blog post. un, e ki komu funsionariu publiku bu ka podi para kritika di bu pesoa (dentu limiti ,e klaru (o e mesmu?!)); y segundo, e ki trabadju publiku ten ki ser konduzidu publikamenti (kuze ki ta txomadu Sunshine Laws, li). nos tera ten algun lei ki ta fazi es direitu di palavra explisitu si? nu lembra ma na USA Sunshine Laws e en adison a Bill of Rights. okay, tenho dito! big up!
ps. sounds like you are traveling; any chance of coming to Bay Area?

Jorge Tolentino disse...

Liberdadi di palabra sta garantidu. El teni limitis, claru. Ruspetu pa dignidadi e pa bom nomi di otus alguen. Keli e fundamental. Ma, apesar ti tudu kel liberdadi li consagradu na lei, teni alguen qui ta dexa di fasi se trabadju di informa o ka ta esserci se diretu de critica, di denuncia so pamodi el teni medu di algum tipo de presson, di retaliasson. El ta censura se cabesa. Ke liberdadi di palabra ten stadu ta ser mas praticadu na blogs. Pa disenvolvimentu di nos cidadania e fundamental qui tudu alguen fla se idea e obi idea di otu alguen. Na assuntu di interessi di comunidadi. Silencio (auto impostu) e ca bom.