segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Blog Joint: Turismo: sol, praias & algo mais

Julgo que, num país como o nosso, a temática do Ambiente tem de estar presente quando se fala do Turismo. Há uma ligação necessária. Esta ligação ficou bem demonstrada no pertinente e acalorado debate que, ainda recentemente, animou a Blogosfera Crioula, trazendo a Murdeira para as luzes da ribalta. Por esses dias, e pelo que estava (e está) em causa, dizer Murdeira ou dizer património ambiental de Cabo Verde foi (é) como que usar sinónimos. Não tenho por necessário escarafunchar neste assunto.

Digo apenas isto: considerando os vários aspectos que foram sendo problematizados (e foram-no de modo responsável e legítimo), bem como a inegável indignação que existe do lado da Cidadania, bom seria que quem tenha responsabilidades públicas na área do Ambiente se fizesse ouvir, seja para esclarecer dúvidas, seja para ajudar a perceber esta ou aquela decisão tomada, seja ainda para transmitir tranquilidade em como o desenvolvimento do turismo não se faz a qualquer custo, antes vai seguindo o seu caminho num contexto de respeito por balizas. O silêncio não se afigura útil.

“Para o PAICV, a defesa do ambiente e a criação de uma praxis ecológica são princípios cardinais, deveres patrióticos e testemunho da responsabilidade ética do cidadão, num país insular, pequeno, saheliano, vulnerável, com um frágil ecossistema. O PAICV, devedor de uma visão holística da Vida, da Natureza e do Desenvolvimento, propugna o justo equilíbrio sistémico entre a preservação da natureza e o desenvolvimento, fomentando a emergência e a consolidação de uma consciência e intervenção ecológicas em todos os cidadãos, sobretudo nas camadas mais jovens enquanto depositárias do Futuro.” Excerto da Declaração de Princípios do Partido

Cabo Verde já é um destino turístico.
Ao dizer isto, estou a pensar no nível de procura e na forma/intensidade com que as ilhas são referidas/ catalogadas/”vendidas” no estrangeiro. Já há uma procura. Daqui a nada tentarei dizer algo sobre a oferta, mas, neste ponto, quero referir o seguinte: sendo Cabo Verde um destino turístico, naturalmente que este facto exerce pressão sobre o país, a diferentes níveis. Estamos preparados? Fomo-nos preparando? Não se pode negar que, neste domínio, o avanço é grande e aconteceu a um ritmo deveras acelerado. Com falhas? Certamente que sim. Será possível fazer melhor doravante? Acreditemos que sim e façamos por isso. A este título, instrumentos fundamentais são as Sociedades de Desenvolvimento Integrado.

Porventura já é chegado o momento de investir seriamente na promoção. Naturalmente que isso custa um bom dinheiro. De aí o “seriamente”. As promoções de low budget conduzem a situações não raro embaraçosas e de retorno duvidoso.

Um dado que tem de ser devidamente enaltecido é a construção da Escola de Hotelaria e Turismo. Tenho uma ideia do muito que tem sido feito em termos de formação de pessoal para este sector aqui assim em apreço, mas o papel e o lugar de tal escola são fundamentais. Porque as necessidades vão aumentando e assim também o nível de exigência. Gente preparada é uma componente sine qua non do Turismo de qualidade. Monsieur de la Palisse deve ter dito isto. E qualidade rima com a tal promoção, ou seja, com a busca de segmentos/clientelas cada vez mais exigentes.

Será que estamos a conseguir dar à volta ao binómio sol & praias? Estamos a ir a bom ritmo no que diz respeito a outras valências (expressões recorrentes: turismo rural, turismo ecológico, hiking & trekking, turismo cultural, etc, etc...)?

Aqui, e de passagem, sempre vale recordar o problema do turismo pelos nacionais. Será que os crioulos estão a “turistar” o seu próprio país?

E esta questão da oferta de pacotes outros ou diferenciados tem muito a ver com a tal pressão que o Turismo exerce sobre o país. A pressão pela banda das infraestruturas e dos serviços conexos. De transporte (qualidade e rapidez das ligações inter-ilhas, sobretudo as por via marítima); de saúde; para a fruição cultural e a prática desportiva; de restauração; de água e energia; de saneamento; de aluguer disto e daquilo, eu sei lá!

Que é como que insistindo na questão: estamos ou não nessa? O que é que há (ou vai haver) para cá das paredes dos hotéis à beira mar plantados? Melhor ainda: enquanto Nação, já temos interiorizada essa necessidade de prestação de qualidade no domínio do Turismo? O tal muito falado espírito empreendedor (dos jovens, sobretudo) está a funcionar por essas bandas?



Preciso concluir este texto, pois ele já vai longo. Antes, todavia, e muito rapidamente, as seguintes notas:
1. Em jeito de precisão. O nosso país tem de dotar-se de equipamentos culturais que propiciem ofertas/programações culturais que, a um tempo, tenham dignidade para figurar em circuitos internacionais e para satisfazer a demanda e o bom gosto dos nacionais e dos estrangeiros (turistas incluídos). Esta está longe, muito longe mesmo, de ser a primeira vez que abordo este assunto. O turismo cultural, ou melhor, o relacionamento entre a Cultura e o Turismo tem de ir muito para lá das montagens pitorescas e já tradicionais nos spots turísticos. Dito de outro modo, esse move em direcção à Cultura justifica-se por si só. Não precisa ir angariar méritos no Turismo.

2. Em jeito de reparo. Essa história da obtenção de Vistos à chegada no país, designadamente nos aeroportos, tem de ser ultrapassada o quanto antes. Porque não nos interessa, enquanto país, passar a ideia da bagunça. Sendo obrigatório que se tenha um Visto para se poder entrar no país, ele deve ser obtido previamente nas instituições do Estado que o representam no estrangeiro e que para tanto aplicam o regulamento em vigor, e desde logo a tabela de custos legalmente aprovada. O Visto pode, inclusivamente, ser obtido em grupo. A regra é essa: obtenção prévia, ou seja, antes de se empreender viagem. Agora, quando o que deveria ser excepção passa a ser a regra e, aí de nós, a um custo de longe inferior (quando deveria ser agravado ou, pelo menos, igual), claramente que há aqui alguma anomalia. O drama dos Postos Consulares para explicar que não estão a cobrar “a mais”!... Que algo está mal, toda a gente já sabe, de há muito. Ou será que os interesses do Estado têm de sucumbir perante a lógica dos voos low cost e dos last minute tickets? Se assim se quer que seja, então que a lei se exprima claramente. De resto, convenhamos, ao menos, no seguinte: o Visto é algo que vai muito mais além da simples “compra” de uma “estampa” à entrada no país. Já temos sido muitos a levantar este problema, mas os ouvidos, esses, têm sido de mercador.

3. Em jeito de sugestão. Um exercício interessante para a Blogosfera seria o de dar a conhecer experiências de nacionais no domínio do turismo (ou de serviços virados para o turismo). Fotos, referências, sugestões, endereços, enfim... Por certo que já há exemplos desse tal empreendedorismo que referi há pouco.

Neste debate do Blog Joint participam os seguintes confrades:
Bianda
Ku Frontalidadi

Teatrakacia
Café Margoso

Geração 20 J 73
Blogue di Nhu Naxu

Tempo de Lobos
Pedrabika
O Jornal da Hiena

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