domingo, outubro 12, 2008

A odisseia africana de Cuba

Desconheço se este filme já foi exibido em Cabo Verde. Mas desconfio que ainda não. Pelo que o recomendo vivamente.

Cuba: An African Odyssey
da Realizadora Jihan El-Tahri,
Egipto/ França, 2007.

Vi-o hoje, no âmbito dos African Screens: New Cinemas from Africa. (sobre eles fiz uma breve referência num post anterior)
Na versão corrente, o filme têm a duração de uma hora e meia, mas há uma outra, menos comercial, que se estende pelo dobro desse tempo.

Trata-se de um percurso sereno, equilibrado e muito bem documentado por um período tão conturbado quanto ainda bastante recente da história africana. E da cubana também, pois claro. Melhor seria, porventura, dizer que que se trata de um relato sobre o que, de algum modo, foi a Guerra Fria para o continente africano. Ou de como a lógica que a sustentava foi (e continua a ser, pois que há sequelas) devastadora para este mesmo continente.
O trabalho de Jihan El-Tahri é, em toda a linha, um trabalho de/pela História. E ela merece todos os créditos por isso. Aliás, sabe-se que o seu labor de Cineasta é sustentado por um denodado “mergulho” em arquivos vários.
Um aspecto destaco, para já: o extraordinário valor documental das imagens recolhidas, pelo que elas têm de inédito para o grande público, e designadamente pela forma como trazem para a boca da cena personagens que tiveram papéis de primeiro plano nesse período (mais ou menos, de 1961 a 1991).
A maior parte dos footings é, com efeito, novidade, mesmo aqueles relativos a, digamos, gente mais próxima. Aliás, creio que Amilcar Cabral está, neste filme, referido com o justificado destaque.
Também Che aparece-nos a outra luz, muito para cá da motocicleta e do belíssimo diário com ela.

Um outro aspecto que tenho por saliente é a frontalidade (a candura, nalguns casos) dos depoimentos prestados por pessoas que foram actores nesse período. Por exemplo, os casos de Chester Crocker, do pessoal do Apartheid (Botha, Malan) e mesmo de alguns que estiveram ligados às Inteligências, de um lado e do outro. A fleuma com que um deles dá conta das instruções e dos ingredientes que recebera para eliminar Lumumba!...

E concluo com uma nota (que, de resto, é apontada por uma das personagens americanas entrevistadas): é pena que as deliberações político-diplomáticas relativamente a Cuba não tenham permitido dar a este pequeno país e à sua solidariedade internacionalista o reconhecimento devido pelo seu decisivo papel (na frente armada, mas também à mesa de negociações) para o desfecho de capítulos importantes (vg, os casos de Angola e da Namíbia) da história recente da África.
Ora bem. Isto tudo para dizer chapeau! ao filme e à sua Realizadora.


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