segunda-feira, novembro 03, 2008

Falou e disse

“(...) esta crise deve ser encarada como uma oportunidade para controlar a dinâmica da globalização, procedendo aos ajustamentos que se impoem no sistema internacional, reformar as suas instituições e estabelecer uma nova ordem, mais justa, que dê expressão à realidade geopolítica actual e a um novo equilíbrio macroeconómico mundial. Que esta mudança se possa fazer sem antagonismos irredutíveis e sem uma confrontação global é o maior desafio que a comunidade internacional enfrenta nos tempos mais próximos.
Neste sentido, a questão mais urgente é evitar que a crise financeira arraste a economia mundial para uma recessão acentuada. As principais medidas adoptadas pela generalidade dos governos visam, por isso, reanimar o sistema financeiro, estabilizar os mercados e recuperar a confiança. A injecção de liquidez, o reforço de garantias, a recapitalização ou a nacionalização de bancos quando necessário são medidas de emergência que a generalidade dos governos tem vindo a adoptar.
Sabemos hoje que, depois de décadas de inovação e de desregulação em algumas economias mais sofisticadas, o sistema financeiro descolou da economia real e levará o seu tempo a reajustar a actividade bancária às necessidades das empresas e das famílias. A política económica, para além da preservação de um bom ambiente macroeconómico, não pode iludir o carácter extraordinário da conjuntura que se vive e deve concentrar-se o mais possível na situação das empresas e das famílias.
Contudo, reestabelecer a confiança, profundamente abalada a nível mundial, está para além da acção limitada dos governos e dos Estados, exigindo a acção concertada das principais instituições e organizações internacionais. Neste sentido, a acção dos governos nacionais deve ser acompanhada de forte coordenação regional e de intensa cooperação inter-regional e mundial.(...)”
Luís Amado
Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal
A Crise e a União Europeia”, texto de opinião in jornal Público, edição de 1 de Novembro último.

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