sábado, outubro 18, 2008

No Dia Nacional da Cultura

Assinala-se hoje, 18 de Outubro, o Dia Nacional da Cultura.
Permito-me, a prepósito, algumas notas avulsas:
1. Felicitações a todos os Criadores Culturais, dos mais diferentes domínios, pela persistência e entusiasmo com que têm sido os verdadeiros pilares do dinamismo cultural que, ninguém o nega, existe na Nação cabo-verdiana.
Pelas notícias que tenho podido ler, foi posto em marcha um bom leque de acções, digamos, comemorativas deste evento, o que é de louvar.
2. Acabo de ler uma
notícia sobre os vencedores do Grande Prémio Cidade Velha e do Prémio Orlando Pantera – Descoberta de Talentos Jovens. Para eles os meus parabéns.
Não me coíbo de dizer que a atribuição do GP é algo que me traz grande satisfação. Bem sei o quanto batalhei para que essa minha ideia assumisse a forma de lei, o que veio a acontecer em 2003 (Decreto-Lei nº 67/2003, de 31 de Dezembro). Caso para recordar que esse diploma instituidor do GP determinou que a primeira atribuição teria lugar aquando dos 30 anos da Independência Nacional, em 2005, o que também aconteceu. O que significa que esse Grande Prémio está agora a ser atribuído pela segunda vez. De 2005 a esta parte, há, tanto quanto julgo saber, três desenvolvimentos a registar: o valor do GP passou de 700 para mil contos; normalizou-se que a atribuição acontece sempre por ocasião do Dia Nacional da Cultura; e a periodicidade do GP passou de dois para três anos (o que não chego a perceber, mas, feitas as contas, não se trata de uma alteração de monta).
3. Felicitações, igualmente, à Assembleia Nacional por ter instituído o Dia Nacional da Cultura, adoptando um projecto apresentado pelo então Deputado Jorge Silva (PTS);
4. Uma palavra de apreço para o Ministério da Cultura e o respectivo titular, Doutor Manuel Veiga. Por experiência própria, sei que esse é, porventura, o departamento governamental onde o dia a dia é um renovado exercício de criatividade para, passe a expressão, fazer omoletes sem ovos. O que não retira nem diminui a justeza das críticas que, aqui e acolá, são feitas; apenas aumenta a angústia de quem está ao leme.
Assim entre parentêsis, lembro-me (e com isto julgo que não estarei a cometer nenhuma inconfidência) da visita a Cabo Verde do então Primeiro Ministro português, Dr. Durão Barroso. Durante um almoço, no Mindelo, tendo perguntado ao seu Ministro da Cultura, Dr. Pedro Roseta, e a mim qual dos dois estava há mais tempo nessas funções, sublinhou as proverbiais dificuldades da pasta e rematou dizendo algo como isto: mais do que dois anos na Cultura já é assim uma espécie de sacerdócio.
5. Continuo a entender que os Institutos da área da Cultura têm feito um trabalho meritório. De todo o modo, temos a obrigação de desejar mais, sendo que o grande salto em frente que falta dar não depende deles apenas. Voltarei a este tópico daqui a nada.
Ainda há poucos dias, João Branco inventariou uma série de projectos sobre os quais o enguiço persiste.
6. Aqui neste blog já me referi à necessidade de tirar partido das possibilidades criadas, em 2004, com o regime do Mecenato. Pelo que não vou insistir neste ponto. Agora, que falta algo como um movimento pelo Mecenato, lá isso falta. E, ao reincidir na defesa deste regime, estou longe de aderir ao ponto de vista segundo o qual o MC tem sido um como que guichet para subsídios. Ao menos tivesse verbas para responder por tal fama! Pois que a verdade é que os montantes de que se dispoe para esse fim são baixíssimos. Neste particular, será instrutiva uma leitura dos orçamentos do MC ao longo dos anos.
7. Pela auto-crítica que tenho feito, ainda não encontrei razões para não ter como salutar essa experiência dos chamados Embaixadores da Cultura. Alguns deles já faleceram, entretanto (Anu Nobu, Ildo Lobo). Mas já há mais gente merecedora de tal distinção. Como seguramente já havia quando o primeiro pelotão foi fixado. O primeiro... Volta e meia, há vozes da política a dizer que as gentes da Cultura são os grandes, os autênticos Embaixadores do país. Pois então! De resto, mesmo no plano mais prático, sabe-se o quanto o passaporte diplomático lhes pode facilitar a vida nas suas andanças pelo mundo. Questão outra e que chama à liça outros departamentos é a da chamada Diplomacia Cultural, mas por este caminho não vou entrar agora.
8. Neste país-Cultura que é Cabo Verde, é fundamental que o Estado cresça na assunção das suas especiais responsabilidades na matéria. E com isto estou a fazer a ponte com o ponto 5 anterior. Tarda um decidido e substancial investimento público nesta área aqui assim em apreço, parece-me. E, não tenhamos ilusões: há certo tipo de realizações que tem de ser o Estado a empurrar. Mormente nestes tempos em que o privado puro e duro está, um pouco por esse mundo fora, acantonado a tremer de sustos mil. Ou seja, para que a Cultura venha a carburar em termos “industriais” é preciso que a mão do Estado entre, sem receios, sem mais adiamentos. Como investidor, se se quiser. Ainda que promovendo parcerias diversas. Mas é preciso não alijar para outros o que tem de ser feito pelo próprio Estado. Basta pensar na rede de instituições culturais... públicas. Ou no quanto é ainda minguado o nosso parque de unidades culturais. Problema outro é o do modelo de gestão (exploração) que se encontre para cada uma delas. Pessoalmente, fiquei ruço e rouco de defender dinheiros para a Cultura. Mas continuo teimoso o suficiente para ir expondo as minhas ideias e para acreditar que, um dia, teremos orçamentos do Estado que sejam, objectivamente, amigos da Cultura. Aliás, creio ser já um bom sinal quando o próprio Chefe do Governo, o meu amigo Dr. José Maria Neves, reconhece (e cito de memória) que a Cultura tem feito mais pelo país do que qualquer governo...

Na imagem: Nha Nacia Gomi, Embaixadora da Cultura desde 2003.

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