“Costumo dizer que os portugueses são necessariamente mais ciosos da língua do que os povos da colonização e da diáspora, que criaram variações da língua e chegaram quase a produzir outras línguas. Como dizia uma canção brasileira, «o brasileiro já passou para lá do português», nós no Brasil já somos factores dinâmicos de transformação da língua portuguesa, por isso não nos preocupamos tanto com a língua no sentido das suas matrizes, dos seus elementos básicos e históricos. As línguas são organismos vivos, corpos dinâmicos que têm sistemas de absorção e de eliminação e que estão em constante transformação. Os acordos ortográficos deveriam ser perenes e estar submetidos a uma permanente vigília da língua, através de um conselho permanente, com ampla representação de especialistas e também de pessoas comuns. É preciso que todos nós estejamos atentos aos impactos das novas tecnologias na língua, como a Internet. Essa atenção não pode ser dada simplesmente sentado muito formalmente e circunspectamente em torno das mesas. É preciso que as considerações que façamos sobre as línguas sejam leves. A língua é uma coisa séria, mas também não é. A língua é tudo, é todo o arsenal de meios para a comunicação. A língua é muito mais do que uma simples escrita, do que uma maneira de falar. A língua é uma coisa muito grande, muito ampla. A língua inclui o próprio silêncio.”
Gilberto Gil
Gilberto Gil
em entrevista ao Expresso (Suplemento Actual), 15 de Agosto de 2008.
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